Brasil rumo à liderança global na descarbonização dos transportes
18 de junho de 2024
Por Orlando Merluzzi- PMO do Acordo de Cooperação MBCB
À medida que as mudanças climáticas transformam o planeta com impactos significativos socioeconômicos, a necessidade de encontrar soluções possíveis e eficazes de fontes de energia torna-se cada vez mais urgente. No contexto global, o Brasil assumiu compromissos ambiciosos de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 48% até 2025 e em 53% até 2030, em comparação com os níveis de 2005. O objetivo de longo prazo é a neutralidade – emissão líquida zero – até 2050.
O país possui condições privilegiadas para enfrentar desafios ambientais e conduzir o desenvolvimento, de modo sustentável. Contudo, é fundamental que haja alinhamento regulatório. Com diversidade de biomas, abundância de recursos naturais e um enorme potencial para energias renováveis, o Brasil pode se tornar o protagonista global na descarbonização da economia.
A mobilidade e o setor automotivo apresentam grandes oportunidades para a descarbonização. Em comparação com a média das principais nações emissoras, o setor de transportes no Brasil contribui com aproximadamente 14% das emissões totais de CO2; em países desenvolvidos esse índice atinge, em média, 23% – nos EUA atingiu 28% em 2022, fonte EPA. A descarbonização desse setor, por meio de tecnologias inovadoras e políticas públicas responsáveis, pode conciliar objetivos sociais, econômicos e ambientais, promovendo desenvolvimento sustentável e justo.
A matriz energética do Brasil é composta, majoritariamente, por fontes renováveis. Além disso, há décadas desenvolvemos métodos eficazes de descarbonização no transporte, com os biocombustíveis. A frota de veículos leves no Brasil tem alta proporção de motores flexfuel, que utilizam gasolina e/ou etanol, já representando mais de 83% dos licenciamentos. Esse desenvolvimento tecnológico não apenas diminui as emissões de CO2, mas fortalece a economia local, criando empregos e gerando renda.
Estudo recente, realizado pela LCA Consultoria e MTempo Capital, encomendado pelo MBCB (Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil), traz à luz essas e outras observações e ratifica esse posicionamento. A iniciativa mede, de forma inédita, os impactos socioeconômicos dos carros híbridos flex e dos elétricos, em projeções para os próximos 25 anos. Os resultados reforçam a necessidade de uma abordagem neutra, que não discrimine nem privilegie rotas tecnológicas e segmentos específicos, garantindo uma transição justa e eficiente.
É importante que as ações de fomento, incentivos e financiamento, privilegiem o objetivo e o propósito – no caso, a redução das emissões de GEE e a melhoria das condições socioambientais – e não apenas uma ou outra tecnologia específica. Todas as rotas tecnológicas são parte da solução e compõe a estrutura disponível para que o país alcance seus objetivos e cumpra com seus compromissos. Etanol, biodiesel, biometano, hidrogênio verde, SAF, veículos elétricos e híbridos; enfim, a maior diversidade tecnológica em prol da redução das emissões de gases de efeito estufa.
Dentro das metas de descarbonização, a eletrificação do transporte é uma tendência global impulsionada por políticas públicas e incentivos nos principais mercados. Os produtos trazem tecnologias e experiências fantásticas e sua viabilidade comercial em larga escala depende de fatores distintos regionais. A participação de veículos elétricos nas vendas globais aumentou significativamente e a criação da infraestrutura é essencial para sustentar essa expansão. Embora a eletrificação no Brasil ainda esteja em estágio inicial, a produção de energia limpa, a competência em biocombustíveis e o desenvolvimento de novas tecnologias, posicionam o nosso país de forma muito favorável. É preciso aproveitar esse momento com visão ampla, neutra e responsável.
Para alcançar a liderança global na descarbonização dos transportes, o Brasil deve continuar a investir em pesquisa, desenvolvimento e inovação, além disso, o alinhamento com políticas públicas estruturadas como o Renovabio, o Programa Combustível do Futuro e o MOVER (Mobilidade Verde) são fundamentais para impulsionar a transição, além de linhas específicas de financiamento que fortaleçam o objetivo. A transição para uma economia de baixo carbono exige abordagem integrada e inovadora. Todos os programas, em um ambiente regulatório favorável e o com incentivo à inovação tecnológica, são cruciais para a neoindustrialização, geração de empregos, renda e atração de investimentos.
A neutralidade tecnológica será essencial para permitir que diversas soluções coexistam e se complementem, atendendo, de maneira eficiente, às necessidades do país e impulsionando o Brasil rumo à liderança na descarbonização global dos transportes.
As diversas rotas tecnológicas que o Brasil oferece podem levar as melhores soluções para outros países, com viabilidade plena e dessa forma, solidificar a nossa posição de protagonista, sem privilegiar tecnologias, mas fazendo uso de todas, adequando-as a cada situação em prol de um objetivo maior.