Neutralidade tecnológica: caminhos para uma mobilidade sustentável
04 de dezembro de 2024
Autor: Fabio Ferreira, Diretor de Produtos da divisão da Power Solutions da Bosch América Latina e membro do Acordo de Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil (MBCB).
No cenário atual da crescente conscientização ambiental por parte das corporações e de um mercado consumidor mais exigente por produtos customizados, a neutralidade tecnológica emerge como um conceito vital em meio à busca por soluções sustentáveis. Esse princípio, preconiza a utilização de diferentes tecnologias de forma equilibrada e eficiente, considerando os possíveis casos de aplicação bem como diversificados requisitos.
Na indústria automotiva, um dos eixos da neutralidade tecnológica é o uso de biocombustíveis e fontes renováveis de energia. Combustíveis sintéticos, hidrogênio e, especialmente, biomassa se apresentam como as principais matérias-primas que nos levam à neutralidade de carbono, considerando a cadeia completa da fonte primária ao seu uso. Esses permitem ainda a evolução para que a própria cadeia de produção seja mais eficiente em relação à neutralidade de CO2. Além deles, as fontes de energia renováveis para geração elétrica, como a solar e eólica, desempenham um papel crucial para a neutralidade de carbono na cadeia de produção. O Brasil se destaca neste âmbito, sendo líder em eletricidade renovável no G20. Em 2023, o país alcançou a marca de 89% de sua eletricidade proveniente de fontes renováveis, segundo o “think tank” de energia Ember.
Adicionalmente, essas rotas tecnológicas devem considerar as especificidades regionais e setoriais. Nosso país é um bom exemplo: o Brasil é um grande produtor de etanol, devido às condições favoráveis para a produção de cana-de-açúcar. Já na Europa, países como a Alemanha focam na promoção de energia eólica, devido seu ambiente propício para a geração desse tipo de energia. Tal adaptação das tecnologias às condições locais é fundamental para maximizar a eficiência e a sustentabilidade.
O uso de biocombustíveis e de energia renovável deve contemplar todo o ciclo referente à pegada de carbono, da produção do combustível ao momento da mobilidade – conhecido como ciclo do “poço-à-roda” -, para que o real impacto ambiental do seu uso seja considerado. Mas, como fica o ciclo do “berço-ao-túmulo”? Este abrange toda a cadeia de produção, desde a fabricação dos veículos e componentes até seu descarte. Apesar de ser desafiador imaginar uma cadeia completamente neutra, a indústria automotiva se desenvolve para aumentar o reaproveitamento de componentes dos veículos.
A rota da eletromobilidade se ajusta hoje para buscar a melhor aplicação, via baterias de estado sólido até células de combustíveis. Diferentes formas de hibridização ou de uso dos motores elétricos estão em desenvolvimento para buscar o ponto ótimo dessa rota. A tecnologia de células de combustível – que utiliza o hidrogênio para gerar energia elétrica, usada então para movimentar um motor elétrico – surge como uma opção atrativa para usos específicos, embora ainda dependa de avanços significativos na reciclagem e infraestrutura.
Em torno da implementação de soluções, torna-se imperativo também mapear a pegada de carbono em todo o processo produtivo, e para isso, buscar ferramentas e processos mais eficientes, que levam a uma melhor rastreabilidade das emissões de CO2 em qualquer parte da cadeia. Neste cenário, a digitalização é uma poderosa solução para transformar dados em conhecimento, o que possibilita comparação das informações em diferentes cenários e auxilia na tomada de decisões.
Em paralelo, políticas de neutralidade de carbono também fomentam a adoção de tecnologias mais sustentáveis. Por todo o mundo, há um alto volume de investimentos nessas soluções. No Brasil, temos o caso do Programa de Mobilidade Verde e Inovação (Mover), que amplia as exigências de sustentabilidade da frota automotiva de forma avançada e consistente, estimulando e apoiando o avanço de novas tecnologias nas áreas de mobilidade. No setor privado, por sua vez, o mercado consumidor impulsiona a adoção de soluções sustentáveis por parte das empresas, que possuem um compromisso ético e buscam associar suas marcas com o contexto ambiental positivo.
Assim, a combinação das duas rotas – eletrificação via fontes renováveis e implementação de combustíveis alternativos ao fóssil – é o caminho tecnológico em curso, que buscará garantir uma experiência positiva do usuário, bem como um caminho robusto e viável na sua implementação e desenvolvimento de infraestrutura.
A partir das definições dos especialistas em tecnologias e correta adoção pelos clientes, é possível oferecer opções variadas para a escolha da solução que melhor se adequa às necessidades e contexto de cada lado. Isso não apenas promove a sustentabilidade, mas também democratiza o acesso a tecnologias inovadoras.
A Bosch está amplamente comprometida com a descarbonização, seja com soluções para veículos flexfuel, híbridos flex, elétricos ou células de combustível. Na América Latina, a empresa atua ativamente no aprimoramento das tecnologias a combustão, visando uma condução mais limpa, eficiente e sustentável. Com a criação da tecnologia Flex Fuel, a Bosch ajudou a posicionar o Brasil entre os países com baixo índice de emissões de CO2 devido ao uso do etanol. Segundo dados da UNICA, desde 2003, ano do lançamento dos carros flex, o uso de etanol já evitou que mais de 800 milhões de toneladas de CO2 fossem lançadas na atmosfera. Para efeito semelhante na natureza seria necessário cultivar aproximadamente 5 bilhões de árvores pelos próximos 20 anos. No segmento automotivo, o sistema Flex Fuel é um dos principais destaques da companhia e, graças a solução, a América Latina se tornou referência global em biocombustíveis.